segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O que é Filosofia ?


O que é a Filosofia?
Por:Roberto Nascimento de Souza


A Dante, perché: ”in um vórtice di polvere gli altri vedevan sicità, a me ricordava la gonna di genny in um ballo di tanti anni fà” (Fabrizio De André).

Amiúde a pergunta: afinal, em que consiste a Filosofia?Foram inúmeros aqueles que já a definiram ao longo da historia das idéias. Alguns através de conceitos concisos, outros em extensas explanações. Uns mais clássicos que outros, mas todos, indistintamente, trataram do tema e o circunscreveram.


Penso que, talvez, o mais conveniente para tentar responder à questão seja a aberta de um dialogo. Um dialogo acerca de um caminho: a procura do ser.


O Ser se busca.


E essa busca se assemelha a uma apanha de bolhas de sabão. Tantas quantas sejam, as bolhas de sabão escorregam por entre os dedos, explodem no bater de mãos, mancham as camisas e nos angustiam quando não conseguimos segura-las no devido tempo.E sempre que o conseguimos,o fazemos carinhosamente,como fazem os amantes que se internam nas coxas de madrepérola dos amados e gemem como crianças ouvindo canções de ninar.Ou simplesmente como os rapazes que seguem as pipas violentando os céus.Os olhos grudados na esperança de não deixa-las cair e ao mesmo tempo, a férrea vontade de vê-las subir cada vez mais a bailar no ritmo dos dançarinos africanos sob o bater dos tambores que rasgam as noites insones da simbologia primeva.


O Ser se Busca.

E essa busca parece a sensação da saudade, ou a certeza da ausência: a melancolia alegre de quem sabe que busca e sabe que a busca é somente a busca,jamais a certeza do encontro.Ou se preferirem, a certeza de que no meio do caminho dar-se-à a queda,posto que com esta, a guilhotina da temporalidade,e com esta, a determinação do vazio,e com este, o esquecimento da consciência,e com este,a desumanização.

Buscar o Ser é embriagar-se pela vida: isto é Filosofia.


A filosofia não é a expressão das maquinas, técnicas, roteiros, robôs e cérebros artificiais. Ou linguagem padronizada Universal. A Filosofia é o orgasmo do pensamento elaborado. O abraço terno que o homem oferece ao mundo, como se fosse o enamorado que acaricia com ternura o bico dos seios do seu amante.


A Filosofia é como pentear os cabelos do universo, de modo suave e carinhoso, como sói ocorrer entre dois apaixonados ao de uma longa jornada. Um pentear tão suave, que se ouve ao fundo, o gargalhar das estrelas, como se todo o cosmo fizesse parte do instantes da descoberta.

A Filosofia é como embalar o mundo, semelhante ao homem que exausto enxágua o suor de uma mulher e lambe seus temores após receber, à sua chegada, o sorriso aberto de menina que escapuliu da lua.


Porque o mundo é o que é. O homem, o que nele busca ser.


Por isso, compete ao homem, na filosofia, enamorar-se do mundo e porta-lo no colo. Semelhante ao embalo que as mães oferecem aos seus recém-nascidos e bem desejadas crias. A Filosofia, porque busca o Ser, é lírio que perfuma. Suave perfume que transforma as pedras em nuvens e mutando-as em nuvens, procura, incessantemente, transforma o próprio mundo. A Filosofia, pois, é o caminho pelo qual o homem encontrou para a busca do ser.


Isto significa que, malgrado as angustias que a vastidão do compreendido nos fornece, apesar da indiferença dos fronteiriços mentais ou da arrogância dos pretensos sábios midiáticos a Filosofia ainda é e continua sendo,a única porta de espera e o único caminho para a compreensão do Ser.


Afirmo compreensão do Ser, não o consorcio da consciência com o Ser.


A consciência Filosofa: na busca do Ser, este malandramente e muitas vezes lhe escapa. E ao olhar no espelho da madrugada, a consciência se depara com a imagem da fuga como de uma mulher sorrateira, pelos escombros dos descaminhos, escapole rumo ao desconhecido, deixando seu amante na perdição de um jogo decidido anteriormente, através de um árbitro devidamente convencido da ineficiência dos recursos do adversário: seu escondido amor das noites mal iluminadas.


Sendo um deus relativo/absoluto, a consciência, abre-se em direção ao infinito, contudo somente pode abrir-se a este infinito na finitude concreta das situações de existência. Eis a razão pela qual a filosofia não é contemplativa, pura e simplesmente, mas transformadora: fazendo a hermenêutica da existência na concretude das situações postas constrói-se, de imediato, o mundo humano paralelo.




Sem as situações não haveria o humano e sem o fazer não haveria homem,e a Filosofia é o fazer continuo do homem.

Peço-lhes permissão para advertilhe-lhes que muitas vezes no exercício do filosofar se escorrega, como acontece aos meninos de rua, a jogar futebol, onde a grama mal arrefecida produz buracos de barros por entre os dedos e os pés se tornam inúteis esquis tropicais balançando os corpos franzinos e forçando-os a cair. E quando se escorrega, da-se, então, um outro encontro: o encontro com o Sendero da falsidade.

A relatividade/absoluta da consciência pode nos levar a este caminho, e nos leva, infelizmente.


Se olharem o mundo, de soslaio que seja, poderão observar a existência de leis químico-fisico-biologicas que não podem e não devem ser consideradas e já eram pré-existentes a todos nós, neste plano de física mecânica em que vivemos. Devo, então, por imperativo de subsistência, conhece-las na sua inteireza ou, quem sabe, conhecer as maneiras de “inventar” meios de apropriar-me delas de tal maneira que possa ser o feitor das próprias leis anteriormente conhecidas e burla-las ao meu bel prazer.


Em outros termos, nós os humanos estamos condenados a interpretar o mundo tal como ele o é. Contudo, qual meninos criados nas montanhas, muitas vezes caímos e nos transformamos em roliças barricadas ambulantes e as estrelas,que não palram,do alto do seu telhado envidraçado,riem gostosamente e acompanham o murmurar das tentativas interpretativas acerca das suas luzes,violetas ou esbranquiçadas,que se debruçam todas as noites enquanto as bruxas,imaginadas ou desconhecidas,se encolhem no amanhecer.




A historia das Ciências nos comprova, por intermédio dos inúmeros revezes de interpretações insanas, o quanto nos enganamos acariciando a falsidade. Seja ao afirmar a terra como plana, seja a considerá-la centro do universo,seja, por ultimo, a procurar a riqueza instantânea na fabricação de ouro por meios químicos impregnados de ingenuidades, falácias, misticismo e desconhecimentos.

A construção de entidades ideais fundamentadas em tais concepções da física e da química já demonstraram o quanto a historia da humanidade perdeu-se na construção do “homo sapiens”


Então trilhamos e nos chafurdamos no Sendero da falsidade: um atalho obscuro/claro de uma certeza/incerta onde o Ser se esconde recostando o rosto em um pedaço de galho seco de uma arvore sem frutos e insone se angustia por não abraçar a consciência e acariciá-la nas primeiras luzes da manha.

Não é, pois, a falsidade uma entidade metafísica, mas a condição humana de não interpretar o mundo tal como ele é, na sua inteireza e soberania: estamos condenados a jamais interpretá-lo na sua inteireza?

A falsidade é como um vampiro, ou morcego, como preferirem, que foge assustado após os primeiros raios da aurora e deixa atrás de si a incerteza da decisão e a certeza do medo de tomá-las, paralisando, por tanto, o fazer humano.

Isto é, a construção da Vida.

A sensação do falso é semelhante ao sol que escorrega atrás dos montes de um deserto inóspito, a cuspir o fogo devastador da frustração da procura humana por não haver chegado ao porto do encontro com o ser.


Ao contrario do descaminho da falsidade ,quando acolhemos o mundo como é e acariciamos o verdadeiro,descortinam-se os lábios e os sorrisos humanos que se perfazem tal qual aqueles que encontram a bem aventurança do gozo.


Afirmo-lhes que nem sempre ocorre o acolhimento, contudo este é o objetivo da Filosofia, digam o que digam, este é o imperativo do filosofar, porque “se existe o provável ( e o há),existe o verdadeiro.” SARTRE, Jean Paul ...

Portanto, Verdade e Falsidade, são duas vertentes ou faces de um mesmo possível, e estão no cerne da Filosofia.

Quais as razões pelas quais as duas faces são possíveis? Alem do erro, da ignorância ou da má-fé, que são razões mais evidentes, a incerteza das escolhas se torna fundamental para a fuga do ser.

Condenados que estamos a escolher, sempre, a consciência nas situações concretas de existência posicionando-se frente ao Mundo, arrisca-se constantemente a dar-lhe um “sentido”, sentido este sempre fundamentado em um projeto futuro cuja incerteza de ser-se torna-o muitas vezes inóquo.


Porque todo projeto se funda no Nada de Ser do Homem, todo projeto é tentativa de construção de um ser cujo ser encontra-se fora dele: e o fracasso humano é inexorável.

E, mesmo assim, todo projeto há de se espalhar na hermenêutica do mundo, e que é tal como o é.


Sem esta condição não há projeto, mas ante-projeto: eis o paradoxo.


Assim, penso que o encontro com o Ser somente pode se dar no abraço terno que se enlaça com a Verdade, apesar das campanhas irracionalistas e propositais, embebidas por um pragmatismo desumano cujo vértice ultimo é máxima: se funciona é Verdadeiro. Em absoluto: antes que possamos pensar na praticidade há de convir refletir, pelo menos um instante no que já foi citado alhures: “se existe o provável, existe o verdadeiro”

Verdadeiro, portanto, seria um beijo carinho e labial correspondido em sua inteireza entre consciência e mundo. A falsidade seria a fuga atabalhoada dos moleques gazeteiros – é quando Consciência e Mundo se distanciam e criam barreiras intransponíveis entre um e outro. Um e outro que se necessitam, posto que “não há mundo sem consciência e não a consciência sem mundo”. SARTRE

Por fim, e para que não lhes canse mais, Filosofar é deitar a cabeça por entre os seios do mundo, acariciá-los com ternura e lentidão, beijá-los com lassividade, mordisca-lhes vez em quando, até atingir o supremo gozo do Verdadeiro.

Porque, Filosofar é manter-se embriagado pela vida.
Este é um texto de autoria do Professor da Universidade Catolica do Salvador (UCSAL) - Roberto Nascimento De Souza

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