O primeiro operário a chegar à presidência da república é, também, o maior governante da história do Brasil. A afirmação pode, sim, parecer audaciosa, precipitada e - como muitos dizem por aí - vulgar. Ora, mas o “vulgar” em questão, é um termo adotado por uma elite microscópica que há oito anos tenta impor termos desproporcionais e descabidos para macular a imagem do “ex”-operário que tornou-se, democraticamente, presidente do Brasil. A suma maioria – ou seja, o povo – prefere a afirmação de um fato concreto, o fato de Luís Inácio Lula da Silva ter sido sim o melhor, mais sensível e, por isso, mais popular presidente da história desse país.
A história é conhecida e demonstra as varias facetas de um homem que dedicou a vida a um país, a um povo, a causas que, em comum, tiveram (e ainda têm) a vontade de tornar digna a existência dos que estão a margem dos processos que ao longo da história – por motivos diversos, sejam eles contingentes ou intencionais - fizera inúmeras vítimas. Vítimas de um processo de esquecimento dos afetos, do sensível, de sentimentos que devem ser (e são), sim, próprios também à política e seus modos de atuação. Lula tem por mérito maior não apenas o fato de ser o primeiro presidente operário, ou ainda o fato de ter conseguido eleger a primeira mulher presidenta da história do Brasil - fatos esses que são em si, obviamente, significativos e de importância simbólica enorme e desempenham funções efetivas. O maior legado deste homem é, no entanto, ter despertado a potência do sensível e não tê-la feito fracassar. Governar com destreza é saber tratar cada questão de acordo com as particularidades que a envolvem, é sentir-se próximo e afetado pelos problemas mais urgentes dessa questão. Lula mostrou-se grande por mostrar-se afetuoso. A potência de agir foi um imperativo, uma escolha e uma maneira pela qual procurou conduzir sua existência de homem do povo, que é e sempre foi. Lula deu sentido às idéias e as trabalhou, em grande parte, com alegria. A alegria de quem soube potencializar ações para distribuir afetos. E aqui, chamamos “afeto” o que Deleuze definiu a partir de Espinosa; o que, em termos gerais, significa que
(...) há o tempo todo idéias que se sucedem em nós, e de acordo com essa sucessão de idéias, nossa potência de agir ou nossa força de existir é aumentada ou é diminuída de uma maneira contínua, sobre uma linha contínua, e é isso que nós chamamos afeto [affectus], é isso que nós chamamos existir. (DELEUZE,Gilles)
Espinosa nos mostrou o quanto os afetos estão vinculados ao corpo político, e mais ainda, mostrou, também, como as mudanças provenientes desses estados afetivos podem nos levar a situações distintas. A força da existência política se dá em grande parte a partir dos bons encontros, mas, sobretudo, a partir das boas escolhas. Lula conseguiu fazer com que o coração da política brasileira voltasse a bater, e deu vida sensível a um corpo-político marcado pelo horror e ferido gravemente por uma elite assassina, covarde e cruel que sempre teve nojo do povo. A elite do embrutecimento, dos moralismos degradantes e conservadores.
Esse país aprendeu importantes lições nesses últimos oito anos. Lições buscadas, por Lula, no seio dos grandes setores populares, em meio a trabalhadores, ao povo. Essas lições, no entanto, são apenas os primeiros passos para a incessante aprendizagem que seguirá. O Brasil, agora, parece mais possível do que antes.
O último discurso
5 comentários:
Nota dez, gostei do texto e do blogue. Muito original o título. Te sigo, um abraço! :-)
Bruno Cava
quadradodosloucos.blogspot.com
Belíssimo Texto...Parabéns!
Continua, não para!!!!
Ouvi de Dilma (na mídia) que acabar com a miséria... sem nomes, mas a miséria.
Gisèle Miranda
Sem comentários...
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